Thursday, May 17, 2007

Iluminados

Logo ali, de encima da coxilha, um jovem joga uma bagana para o alto e o brilho daquela estrelinha dá origem a um novo cosmos nas lâmpadas falhadas dos postes em alguma rua do berço natal: morre uma luz, nasce uma estrela. Esse jovem agora vê com clareza, os olhos passados a limpo no rosto de uma criança sem rosto, a perambular pelas ruelas. Refaz os caminhos tortuosos das ruas que não levam a lugar algum. Dores da alma que a penação não suporta quando a consciência dá lugar a ares de razão e loucura.

A estrelinha reflete o frágil corpo na sombra dos postes perfilados das ruelas, apaga ascende, negro luzir. Pelas calçadas, praças e bobódromos se ajuntam em grupinhos a burbulharem até as completas; asneiras e futilidades daquele torrão esquecido pelo senhor tempo. E a noite cai e as ruas penam pesados passos de vigilante e só e mais nada. E o jovem assiste...

Luzes. Pequenas elipses engolidas pelos olhos meigos da ingenuidade.
Em juventude perpassamos fases nada agradáveis. Subjulgamos momentos que permanecem na memória, na percepção imaginária. O habitat social não era – e não é –, comum aos que se denominam apocalípticos de final de século. Primitivismo, misticismo e todos os ismos... não recordo os outros sufixos da língua. Não vem ao acaso denominar temporalidade. Lembro apenas de uma dualidade de imagens e palavras jogadas na confluência das estéticas visuais e transparentes ao timbre branco. São lembranças...

O primeiro momento de rebeldia se expõe mais uma vez na carne grotesca, na imagem protestada de cadáveres. A questão reside nesse espectro não salutar da fuga, no momento em que os grãos de pixels se sobressaem no vazio doentio do corpo rebelde deste jovem. Simplesmente o ideário juvenil é o anfiteatro da sociedade espetáculo. O cosmo dos aficcionados jovens que sobrevivem ao dito ser libertário de idéias e réplicas da instância salvadora.

Penso seriamente em seres automatizados; em linguagens rudes. Penso demasiado no continente que aposta em conexões desconectadas da realidade dominante, das mentes doentias e apocalípticas em que vivemos, do eu individual lutando contra o eu coletivo. A prolixidade do tempo deixa marcas - meros devaneios, sonhos se tornando realidade, mas uma realidade maquiada, moldada – que o próprio tempo não apaga.

Vejam a continua mortificação da imagem refletida no espelho, na face-espelho-clássico; vestimentas de suas próprias imagens refletidas e brilhantes pela capacidade de conservar em valores morais tais regras que lhes sugerem como adequadas, porém, as violam com o maior disparate - alienados que estão. Os ídolos, mitos, astros são a representação mais cruel do que eles querem que vocês sejam, mesmo que para que isso aconteça seja preciso transgredir a imagem consumista vendida por padrões midiáticos importados.

A imagem se nutre do abismo imaginário de cada pessoa com o propósito de roubar-lhe a unicidade do pensamento. A imagem se gera a partir de uma matriz que gera uma segunda imagem motriz... simulacros de realidade. A aculturação é a pior espécie e notoriamente a mais usada para te colocarem contra os teus – para não cerrarem os teus grilhões.

Lembrem prisioneiros urbanos de uma terra sem fim. Lembrem comedores de vento: para que a tortura fantasmagórica do ego não coma os seus tímpanos no amanhã, não se calem, não retrocedam aos percalços da moralidade e do conservadorismo dos de posse. Uni-vos.

Expulsai a laia diminuta que controla tua mente, a laia que quer o teu fim, que se articula na penumbra para calar a ti e aos mais fracos. Não permitam que o luzeiro de estrelas que cintilam lá no alto se apague, para não se desprender do resto. Não deixem matar a esperança guardada aí dentro de vocês. Não pensem somente no teu quando outros tantos (a maioria) nem isso têm.

Acredito que somos um pouco de cada parte nesta noite!