Wednesday, March 04, 2009

Sobre atemporalidade do tempo e outras coisas

El cielo ante celeste qui stà colorato. No horizonte se interpõe “rabos de galo” a prenunciar a chuva no alvorecer do amanhã. Meu designo segue como o vento a soprar secamente sobre as carquejas e barbas-de-bode no pampa nu. No entorno do cemitério que um dia se fará minha morada, esse mesmo vento percorre em redemoinhos juntando grãozinhos de areia vermelha a bater em tornozelos desavisados e a levantar saias de moças puras... para felicidade de guris imaturos... dístico d´uma lápide cinchada de trevos da sorte.

O sol implacável amolece moleiras logo após ao meio-dia, refluindo em sua intensidade nas voltas dos arvoredos, na soleira das casas e de seus pátios. Pálpebras preguiçosas lutam na comodidade da sombra à luz dos olhares daqueles acomodados corpos desmaiados à sesta. No alto das araucárias, em meio as nervuras dos cinamomos, cigarras quebram o silêncio ambiente e, capturadas em caixas de fósforo, farão companhia aos besouros na manhã seguinte ao eclodirem da terra, antes do cair dos pingos de chuva, para depois; exércitos colocados na arena lúdica, assim sendo gladiadores se degladeiam em chifradas a fazer a alegria de mãos pequeninas em apostas por gomas americanas ou bolitas compradas no bolicho da esquina.

Sei que, longe dali, o alambrador largou temerário a cerca ao moirão, pressentindo o trovejar do deus nórdico em vias de descarregar sua fúria sob cabeças desprevenidas – ao raio que os parta. O atropelo dos tropeis acorre os carreteiros em busca de guarida em capões-de-mato e, o homem-centauro se faz só um junto aos demônios de chifres em busca de refúgio – Deus, Nosso Senhor! Interceda por nós, Santa Clara!. Promessa de velas acessas...

O dia vira noite, a noite vira dia feito lobisomens e lendas profanas... cruz credo.

Louco afazer aprazado; amolação da faca à cintura enquanto descanso as cordas do fumo de rolo em fios de dedos para fechar o palheiro e guardá-lo no topo da orelha, fico na última seiva do amargo-mate, confabulando comigo mesmo desleais serventias da vida remoçada.
Vejo pés esquadrilharem calçadas de pedra sabão, ruas de chão batido que lhes levam e trazem ao centro econômico e aos arrabaldes, conquanto ao bolicho do “tem tudo”; entre pilhas de latões, baldes de alumínio e, cheiros dispersos de quinquilharias se misturam invadindo narinas que não podem distingui-los sabiamente como o bom cão lanudo do campo a futricar tudo que se chega aos seus grisalhos bigodes. - Porque o pouco que tenho me serve de alimento e nutre minha alma... acho que busquei isto do fundo da cachola em algo que li e não me recordo... talvez sagradas escrituras.

5 comments:

Cátia Cylene said...

Gostei... Tem um ritmo crescente e, embora o vocabulário não me seja o mais íntimo, chammou-me a atenção a sensibilidade impressa sobretudo nos elementos naturais da história...

XXX said...

Isso tá me cheirando a saudade do pago. O senhor foi desterrado da fronteira?

Bom texto, dá pra sentir bem o ambiente e o clima do lugar. Discípulo de Hemingway e Kerouac.

Esse guri vão dar bom, se não estragar...
Hehehe

Abraço!

Eder Z

Lisandro B. Lorenzoni said...

obrigado. vocês me dão um pouco de alimento... são os parcos leitores.

Lisandro B. Lorenzoni said...

obrigado. vocês me dão um pouco de alimento... são os parcos leitores.

©Ari Meneghini said...

Realmente, você tem um bom conhecimento da linguagem gauchesca. Gostei. Tem bastante ritmo, a ambientação dos "Pagos" é ótima. Me lembra muito os contos de Hemingway.
Parabéns,
Continue sempre escrevendo.
Abraço!