Wednesday, April 06, 2011

A revolta dos inanimados

Numa incerta manhã de inverno, o duende verde do jardim da síndica acordou extasiado pela grande movimentação que se fazia na calçada antiderrapante do Pombal. Os inquilinos haviam votado na última reunião do condominato, a revitalização das plantas, pequenas coníferas e adornos do jardim. Pensou nos amigos que faziam companhia a ele por mais de 20 anos e se não correriam risco de serem taxados de ultrapassados pela ação do tempo, por aqueles que o encaravam como uma mera figura decorativa. Agora a pouco, um dos líderes do movimento denominado de pró-renovação anárquica das belezas paisagísticas do Pombal, ajeitava os pequenos potes, com mudas de plantas exóticas da flora nativa. O duende verde notando a conspiração contra os seres inanimados do jardim, convocou todos para parlamentar sobre o perigo iminente. Reunidos na congruência do banco da síndica com o Bloco Gama, o anão Dunga, como representante da ordem suprema dos seres inanimados, subiu ao púbito e deu início ao debate, “conjecturando” sobre o que estava acontecendo. Além deles, estavam a Branca de Neve e os outros seis anões, o porquinho de gesso chamado Godzila, os sapos Rocco e Tido e, Hércules, uma estátua tridimensional admirada pelas mulheres do condomínio por sua beleza e força descomunal.
O duende verde imaginava – não tinha na sua mente oca a predileção para enunciar o fatídico -, mas como oráculo, apenas consultar seus dotes divinos a serviço de todos. – Os humanos querem nossa saída. Seremos substituídos por outros seres inanimados, mais novos e mais belos – vociferou Dunga. O duende verde pediu um aparte: - Abaixo a revitalização do jardim. Somos patrimônio histórico do Pombal. Vamos resistir. Às armas camaradas – pregou sob os aplausos e gritos de ordem. Quando os inquilinos tentavam iniciar a devastação pelas pequenas coníferas foram surpreendidos por uma avalanche de bolas de terra e de grama atiradas pelos membros da ordem suprema. As coníferas soltaram seus espinhos como lanças e flechas a ferir os moradores na calçada antiderrapante. Hércules, relembrando seus trabalhos na antiga Grécia, levantou o banco da síndica com uma das mãos, jogando-o contra a cabeça de um senhor metido a mandão no Pombal. Acabava, ali, o projeto de revitalização do jardim por parte dos comunheiros e iniciava, assim, a revolta dos seres inanimados que, depois de duas semanas, assinariam um tratado de livre arbítrio e de preservação da ordem. Os seres inanimados ganhariam novos companheiros e a Branca de Neve encontraria em Hércules seu príncipe encantado, para frustração dos sete anões e das mulheres do Pombal.

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