Até quando Deus quiser foram às últimas palavras do crítico filósofo do condomínio, antes de levantar do banco e se despedir do seu melhor amigo, o duende verde do jardim da síndica. Não foi só Seu Juli que decidiu abandonar, depois de 20 anos, o Pombal. Naquela semana, na calada da noite, o Baio entrou no apartamento da cônjugue, ajeitou suas bugigangas e sem dar satisfação a ela e aos outeiros da noite, zarpou sem destino. A dona Branca, de cabelos louros como leite, já estava, havia meses, preparada para o golpe baixo do “coruja nocturno”. Pensava em voltar ao antigo marido, mas cabulou a idéia como má aprendiz que era nas côsas do amor, não do sexo, pois experiência não lhe faltava.
O Seu Zeca que andava meio evasivo de assunto nos últimos dias. O motivo era justamente por ter perdido os dois melhores companheiros em assuntar o cotidiano dos condôminos. O vigia tinha lá suas obrigações, claro. Mas, a chatice de varar noites sem a companhia das tagarelas não era a mesma côsa sem o Seu Juli e o Baio. A ronda noturna perdeu a graça. Ficava confinado na guarita, a escutar melodias programadas durante o dia por algum técnico de FM, que nem sabia de sua existência. Foi quando, numa noite dessas, viu uma sombra arquejada rondando as pequenas coníferas do jardim da síndica.
Meio precavido, o guarda do Pombal pegou o três oitão, imitou o andar agachado da sombra e saiu em seu encalço. Ao chegar na mureta de convergência dos Blocos Alfa e Gama, notou que não era nenhuma assombração como imaginara. Um homem de estatura mediana girou os calcanhares e o interpelou. – Que quê há seu guarda? – com um ar senil que se via nos cabelos brancos. – O senhor...hãhã – pigarreou - ...é morador do condomínio?. – Sou sim, novo, do trezentos e vinte e sete. Aliás, deixe me apresentar, seu guarda. Meu nome é Catu. – Prazer –, disse o vigia, desconfiado. – Echanté. Sou advogado de formação. Fui oficial de Justiça, fiz contabilidade e falo quatro idiomas, satisfeito. – Ah claro, sim...sim – respondeu meio sem jeito o vigia, mais por educação do que pela ficha corrida que ouvira do novo morador. Na noite seguinte, o Seu Zeca tinha bons motivos para não achar mais falta das tagarelas. Tinha um novo amigo, assim como o duende verde do jardim da síndica. A dona Branca, de lambuja, ganhou um admirador secreto.
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