Wednesday, April 06, 2011

O país das maravilhas

O crítico filósofo do condomínio estava sentado no meio fio, do outro lado da rua, a olhar o elefante cor de ovo. O Pombal – murmurou pra si. Refletia sobre poder, corrupção, mentiras, intrigas e coisas do gênero. - Coisa pública – disse já cochilando, apouco, o Seu Lengua, utilizando técnicas gnósticas (gnostikós) para adentrar no sonho do duende verde do jardim da síndica. Durante o processo de transferência de energia, mais especificamente na reentrância, sua onda de vibração intracorpórea sofreu alterações sensoriais, e Seu Lengua, nada podendo fazer, entrou na toca do Coelho Feliz pela cabeça do duende verde.
Acontece que o duende verde sonhara justamente o contrário. Imaginava-se como Totó e não sentia falta de Alice, mas temia a Dama de Copas. Democracia, partilha, ética e serenidade perfaziam o seu neoplatonismo. O verdadeiro país das maravilhas, resmoneou o duende verde, na antinomia do espasmo ilusório. Seu Lengua resistiu mais um pouco, mas quando se viu estava a tomar chá com o Chapeleiro Maluco. Depois, como que despertando do transe, o duende verde corrigiu o curso do sonho. - O Chapeleiro Maluco é o Raul Seixas, sussurrou ao ouvido do Seu Lengua. Num estalar de dedos vislumbrou a solução do Brasil... continuar na berlinda, vivendo dos juros da exploração da Nova Ordem Mundial, pensou. Então, tudo ficou claro para o crítico filósofo. Agora, a sua clarividência revelava o significado do sonho e daquilo que ele lhe apresentava há tempos sem uma aparente explicação: a Dama de Copas é a conspiração em carne e osso, a serviço da Nova Ordem.

O sonho é a realização de um desejo, mesmo utópico.

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